19 de fev. de 2023

A Nave da Alegria

 


Contam que em um mundo bem distante e por motivos desconhecidos,  as tribos entristeceram. Até as crianças perderam a vontade de brincar, é como se uma maldição tivesse se apoderado dos vilarejos, e não existisse mais solução para aquela tristeza. Uma anciã avisou que iria a procura de uma cura, não quis companhia, e muito menos que alguém fizesse tal sacrifício.

Andando dentro da floresta encontrou um estranho homem de lata, já havia visto tantas na vida que nem se admirou. Aproximando-se do estranho, fez de uma prece de proteção e pediu ajuda em voz alta, mas ele nem olhou para ela, aproximou-se mais ainda viu duas gotas de orvalho em seus olhos. Ela o abraçou e enxugou o orvalho com um beijo. O estranho olhou para com os olhos vermelhos e disse: Por favor volte para o seu povo que eu vou buscar ajuda. 

Na primeira lua cheia do mês seguinte uma nave pousou em meio as cabanas, passava da meia noite e todos já estavam dormindo. O homem de lata saiu da nave com dezenas de palhaços e os colocou na frente das casinhas cobertas de palhas. Todos fantasiados do Chaplin representando os seus mais diversos personagens de seus tantos filmes, o vagabundo, vida de cachorro, o garoto, pastor de almas, luzes da cidade, e muitos outros. Uma faixa gigantesca colada na nave com uma de sua frases famosas. (A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe).

E mesmo sem nenhum nativo souber quem era Carlitos, como ele renasceu a alegria. As crianças riam tanto que rolavam pelo chão, os adultos, alguns chegaram até esquecer as dores que lhes acompanhavam a muito tempo, a nave da alegria passou na tribo só uma dia, precisou viajar para outros lugares do mundo para diminuir a tristeza, fazer com que por algum momento as pessoas pudessem rir da comédia que é a vida.

E todos nós podemos ser palhaços  por um dia e levar um sorriso para quem só encontra motivos para as lágrimas. Eu sou um palhaço anônimo, e com  mímicas, caretas, e histórias, já colhi milhares de sorrisos de crianças e adultos. E de fazer tantas palhaçadas, já aprendi até sorrir dá própria dor.


A.L.Bezerra




13 de fev. de 2023

Contos e Encantos: A Diversificação do Mundo

Contos e Encantos: A Diversificação do Mundo: A diversificação do mundo é o ponto de equilíbrio necessário  para que possamos renascer, e reformular os nossos  conceitos sobre os momento...

A Diversificação do Mundo


A diversificação do mundo é o ponto de equilíbrio necessário  para que possamos renascer, e reformular os nossos  conceitos sobre os momentos das nossas vidas. A catástrofe mais recente é o terremoto nos países da Síria e Turquia, o mundo inteiro precisa saber que não existe lugar blindado, e em qualquer parte do planeta  pode acontecer um desastre catastrófico. Em meio a tanto desespero com milhares de pessoas sem alimentos, água,  paz, e milhares de entes queridos mortos e soterrados,  outra nação inicia os preparativos para os desfiles carnavalescos em grandes avenidas coloridas e iluminadas.

Em uma parte do mundo sepulturas coletivas em grandes valas, e em outros países festas, comemorações, carnavais, encontros religiosos, torneios futebolísticos, e muito mais. Essa é uma diversificação existente e continuada por séculos, não podemos enxergá-la com olhar hipócrita e criticar tais diferenças como se fossemos seres perfeitos. É difícil aceitar pessoas explorando tragedias para justificar que o fim do mundo está próximo, e tentar condenar eventos alegando  falta de solidariedade. Seria mais lógico observar que não precisa ir a Turquia ou a Síria para ser solidário, em muitas situações dentro de alguns lares alguém compra um perfume importado, mas não faz a doação de um remédio a um parente ou pessoa em condição de rua.

É bom lembrar que a maioria dos que falam em fim do mundo, ignoram a realidade de que ele acaba  todos os dias para muita gente, não são os carnavais, festas, ou outras diversões, que provocam maremotos, terremotos, tsunamis, ciclones, ou algum em menor proporção. Talvez se existisse uma maior aproximação entre ciência e religião, grandes desastres seriam evitados. Acontece que esse cabo de força é antigo, e sem previsão de fim.

Quanto a diversificação do mundo não deveria ser motivo de surpresas ou atribuições, sabem porquê? Quando no início das guerras os guerreiros vencedores jogavam com as cabeças dos inimigos, poderosos se reuniam para brindarem a vitória, sem sequer se lembrar da dor dos que perderam a vida. Resumindo, podemos ser solidários sem ter que abraçar a hipocrisia, podemos fazer uma doação e depois ir a uma balada, nos divertir com consciência e conscientizado dos fundamentos de cidadania, sem jamais diminuir ou agredir de forma física ou psicológica, digno de um ser humano, quando é humano.


A.L.Bezerra

11 de fev. de 2023

Contos e Encantos: Administradores do Mundo

Contos e Encantos: Administradores do Mundo:   Administradores do mundo é o que não falta. nele cada um com uma ideia renovadora e espetacular. Isso é a cara do desespero em que vivemos...

Administradores do Mundo


 Administradores do mundo é o que não falta. nele cada um com uma ideia renovadora e espetacular. Isso é a cara do desespero em que vivemos, não sabemos administrar nosso próprio mundo, mas criticamos a diversidade de escolhas da humanidade, lógico, com raríssimas e poucas pessoas que aparentemente são normais. Em um trecho do conto o reformador do mundo de Malba Tahan fica bem claro o nosso senso crítico e desprovido de sabedoria. 

Malba conta que uns trabalhadores descansavam à sombra de um pé de jaboticaba, uma árvore que cresce em média quinze metros, um deles olhou para cima admirando a árvore, e ao olhar em redor viu um pé de abóbora com frutos gigantes. Então ele comentou: Deus fez o mundo muito mal feito, essa árvore tão grande com os frutos pequenos, e esse pé de abóbora com os galhos tão finos, e frutos enormes. 


Instantes depois caiu uma jaboticaba na testa dele, o amigo que estava ao lado riu, e ele imediatamente comentou: É, até que o mundo está bem feito. Isso significa a nossa visão míope do mundo, e da vida também. Administrar nossa própria vida a qual deveríamos conhecer não é nada fácil, imaginem controlar esse mundão louco, pensem nisso. 

Em meio a tantas diferenças e indiferenças um de nós estará perdido na multidão, não por querer, e sim porque somos todos humanos e desumanos algumas vezes, desconhecidos iguais a um romance que ninguém leu, desconhecidos e desconhecedores, portanto antes de tentar administrar a vida alheia, foca a sua e veja se a conhece. Se por acaso a gente descobrir que estamos no deserto, não vamos nos desesperar, um dia a chuva vai cair e as sementes vão brotar.

A necessidade de ver cada um dos nossos desertos, e caminhar por eles na esperança de encontrar um oásis, é algo fundamental para mostrar o quanto somos resistentes. O calor dos desertos as vezes ainda são mais suportáveis no corpo do que no espírito, corpo e alma se alimenta de resiliência e esperança, e as profundidades dos abismos estão relacionadas aos medos e desistências.


Sempre lembrando que parar não significa desistir, por muitas ocasiões somos forçados a decisões questionadas ou censuradas, mais ninguém além de nós mesmos sabe os verdadeiros motivos por tais decisões. E o que é mais na maioria das pessoas, é exatamente fazer afirmações sem o devido conhecimento da causa. O imensurável mundo das interpretações em alguns casos falam de fraqueza, quando na verdade havia uma fortaleza. Isso não causa nenhum assombro, desconforto sim, quando o silêncio é substituído por opiniões próprias e sem nenhum fundamento de certeza, portanto o silêncio é aliado do tempo, eles sabem os porquês.


A.L.Bezerra 

10 de fev. de 2023

Contos e Encantos: A Moeda de Caronte

Contos e Encantos: A Moeda de Caronte:   Tem uma moeda para o barqueiro? Ou prefere passar cem anos na margem do rio? Caronte, o barqueiro do mitológico rio Aqueronte não vai nave...

A Moeda de Caronte

 


Tem uma moeda para o barqueiro? Ou prefere passar cem anos na margem do rio? Caronte, o barqueiro do mitológico rio Aqueronte não vai navegar sem remuneração,  uma moeda ou as águas do infortúnio. Era exatamente assim que funcionava a travessia que levava as almas  para Hades. Quanta ironia, além de serem levadas para o sub mundo do inferno, ainda tinham que pagar para não ficarem esquecidas na margem do rio. Ou seria melhor assim? Claro que não, o esquecimento ainda poder ser pior que o inferno de Hades, porque ele representa abandono e ingratidão. Isso é a mitologia e suas riquezas literárias, as quais muitas delas poderiam servir de exemplos e lições de vida, a começar por entender qual moeda pode ser levada para que o barqueiro faça a travessia. 
Com certeza quem chegava aos campos elísios, não iam de barco, haviam conquistado lugares tranqüilos através de suas ações terrenas. mesmo assim serão conduzidos sem lugar de escolhas, e sim, por merecimentos.  Imaginem a diferença entre o afluente do sub mundo e as esferas superiores, mesmo que sejam escritos mitológicos, vale a pena pensar sobre isso.

  Saindo da mitologia e passando para a vida real, jamais poderemos ignorar as imensuráveis situações que nos conduzem a diferentes tipos de vidas, no entanto é melhor voar por entre o brilho das constelações, do que se preocupar com algum tipo de pagamento ou ficar esquecido na margem do Aqueronte, divisor entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Seremos todos envolvidos pela mãe Terra e depois encaminhados a mundos diferentes, diante disso teremos de fazer escolhas aqui no mundo humano, depois não teremos opções para mudar o que foi construído. Fica um alerta de que não conhecemos a verdade, desde o princípio somos direcionados a interesses dos mais variados, por isso é essencial evitar julgamentos, muitos menos afirmar quem são merecedores se voar ou entrar no barco. 

Me incluo no bloco dos que apenas opinam sem a menos certeza de como será a viagem, todos estão no mundo das conjecturas, mas acredito que quanto maior for o amor que temos para com os outros, será maior o tamanho de nossas asas. Se por acaso alguém entender diferente, é bom levar uma moedinha na mortalha, possivelmente precisará do barqueiro.

Independente de ideais ou ideologias temos apenas uma vida, e quando perde a validade aqui na Terra, em algum lugar outra renasce. Pensando nisso, jogue paro alto e descarte tudo que lhe acorrenta na Terra, fique leve e crie asas para voar alto. Não esqueça, a passagem é comprada por nós e de forma individual e antecipada, ninguém vai decidir quem viajará no ar ou nas águas. Então ame a si e ao próximo, evite fazer julgamentos porquê não somos autorizados a julgar. Depois daqui somos estranhos no ninho, e só um vai decidir a nossa próxima morada, pense nisso.

"O conhecimento é um farol na escuridão 

A.L.Bezerra

8 de fev. de 2023

Contos e Encantos: Na Tenda do Oráculo

Contos e Encantos: Na Tenda do Oráculo:   Um ancião entrou na tenda do oráculo, sentou-se em um banquinho de madeira e ficou esperando para ser atendido. Minutos depois surgiu o or...

Na Tenda do Oráculo

 


Um ancião entrou na tenda do oráculo, sentou-se em um banquinho de madeira e ficou esperando para ser atendido. Minutos depois surgiu o oráculo, de aparência  estranha, parecia mais uma árvore antiga tombada na margem de um rio. Curvado e com a face cheia de rugas, puxou uma cadeirinha surrada pelo tempo falou: Seja bem vindo andarilho, o que quer saber? Algumas respostas estão dentro de você e mais ninguém, e as que eu souber, você também saberá.
O ancião perguntou: Como será o fim? O oráculo deu uma gargalhada tão alta que o som ficou fazendo eco nas paredes esburacadas, olhou nos olhos do ancião e respondeu. Essa é fácil, será de dúvidas e medo. Quando mais jovem você nunca entrou nessa tenda, agora está preocupado com o fim quando ele que já chegou, talvez seja tarde demais para procurar essa resposta.

Antes as canções que você cantava alegrava corações e enchia os vales, agora o som de seus gemidos atraem as almas que esperam sua entrada no mundo invisível, e quanto mais você gemer mais elas se aproximam para lhe receber.

-O que devo fazer afinal? 

-Cantar, ou chorar, a escolha é sua. 

-Meu gemido é o som das minhas dores, como poderei ignorá-las e cantar?

-Vivemos de escolhas, meu velho. Ainda que não esteja vivo, ainda vivi. Tem poucas opções é claro, mas quando chora as dores não diminuem. Ao contrário, lhe arrasta para as lágrimas, mas as escolhas são individuais, pode fazê-las ainda  com poucas opções, é claro.

-O que é a vida?

-Um grande rio. Com fortes correntezas e um leito abundante, com o passar do tempo vai secando, e na esperança de novos invernos chuvosos para que as águas o encham. Nem sempre isso acontece porquê nós mesmos nos encarregamos de secá-lo, e mesmo de forma involuntária ele vai aterrando até um dia morrer, assim somos nós. Quando jovem, temos força, alegria, conquistas, algum respeito e reconhecimento.  Depois, ah, depois é você, cansado e vencido pela vida e o tempo, mas ainda querendo saber do futuro quando não tem nem presente.

-O ancião olhou para o oráculo e agradeceu, vou saindo muito feliz, pensei que era só eu que não sabia de nada, tudo o que o senhor falou, falei para muita gente durante toda a vida, mas esqueci de seguir as orientações que passei para outras pessoas, e pouco adiante conhecermos a verdade e mentir para nós mesmos.

-O oráculo deu outra gargalhada, Eu sou você, o tempo que não existe mais, portanto pare de se preocupar, o esforço que você faz para gemer, poderá fazer para cantar. É difícil de entender porque eu sou você. Essa é mais uma charada do tempo, veja ao seu redor, mas veja atentamente, e verás que existem jovens mais velho que você.

-Um dia o rio secará, mais o vento arrastará as areias do seu leito, mas aonde existir um grão, será parte do rio. Viva sem ter medo da morte, porquê ela sempre está entre nós. Morrer é deixar de sonhar com dias melhores, e esses dias são as areias que o vento leva e traz, para todos, o tempo todo, por todo o tempo.

A.L.Bezerra

7 de fev. de 2023

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