No circo da vida, somos na maioria malabaristas, ilusionistas, e principalmente palhaços. Sob a grande tenda não existe uma definição exata do nosso personagem, a qualquer dia ou hora tudo pode mudar, até o mastro que sustenta a empanada fica vulnerável com a ação do tempo. Não fugimos da tradicional e milenar apresentação;
Hoje tem espetáculo?
Tem sim senhor.
Amanhã também tem?
Tem sim senhor.
E depois e depois?
Tem sim senhor.
Mas afinal que tipo de espetáculo? interessante, irrelevante, de sucesso, ou de fracasso? No circo da vida tem de tudo um pouco, e as vezes até extremamente exagerado, mas é assim mesmo, existe público para cada tipo de gosto.
No picadeiro um palhaço fazia seu show sob os olhares atentos da plateia, risos e gargalhadas o motivava em suas palhaçadas. Na cadeira da frente bem próximo ao picadeiro uma anciã o olhava fixamente, de olhar sério e sem aparentes emoções. De repente ele falou; não contavam com a minha astúcia? também sou mágico. Passou a mão na ponta do nariz de cera vermelha, e com a mão fechada aproximou da orelha da senhora e falou a palavra mágica riplimplim. Abriu a mão e surgiu uma moeda dourada dentro dela, entregou-a e disse; uma moeda de ouro por apenas um sorriso seu. A plateia riu freneticamente, ela apenas enrubesceu e com uma voz metálica questionou.
Rir de que palhaço, se até você tenta esconder a lágrima, nem sentiu que ela desceu e manchou sua linda pintura.
É apenas suor, nem sempre terminamos como começamos, acontece. dito isso o público silenciou. A senhora retirou de um bolsinho do vestido um pequeno espelho, e o convidou a aproximar-se.
Venha até a mim triste palhaço, olhe no espelho e negue sua tristeza. E ele segurando a calça com uma bengala imitando Chaplin, ignorou aquele desafio, afinal um palhaço vive de sua alegria. Antes de pegar o espelho ficou de costas para o público e fingiu chorar e soluçar bastante, e virou-se repentinamente com um largo sorriso.
A senhora ficou de pé e entregou para ele o espelho, ao olhar não viu apenas sua lágrima, mas a da maioria dos que ali estavam. O palhaço muitas vezes chora de verdade, e o público rir pensando que ele está fingindo. No circo da vida são inúmeras as máscaras que usamos, grande parte das mesmas não apenas escondem decepções, desilusões, desespero, e medo dos monstros que enfrentamos, sem jamais imaginar que um dia eles se apresentassem a nossa frente.
No circo da vida, ela em si representa o ilusionismo, quanto a nós palhaços involuntários, precisamos tingir a face com as cores do momento, e se a pintura manchar fingiremos que é apenas suor; e sabem por que? Porque a plateia que acredita na gente sofre se a gente sofrer, precisamos reunir forças e enxugar a lágrima que também é salgada, quem saberá a diferença? nós, e os que tiverem sensibilidade de ver com os olhos do amor.
Os olhos do amor, esse é o lance mágico. Imaginem se aqueles que se alegram com a nossa dor, pudessem identificar se é lágrima ou suor; Tudo passará até para o palhaço que esconde a tristeza. No circo e na vida o tempo se encarrega das mudanças, inclusive para os que brincam com sentimentos alheios. Cuida, ainda é tempo de rever conceitos. Ah, aquela senhora idosa que deu o espelho ao palhaço, em seguida pulou no mastro, fez da lona duas enormes asas e voou para destino ignorado, deixando expostos todos no circo da vida.
Quem seria ela, alguém arrisca um palpite?
"O conhecimento é um farol na escuridão"
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