21 de dez. de 2024

O Caçador de Espírito

 


O caçador de espírito procura algo especial, queria fugir das teorias e conceitos tradicionais, e encontrar uma fonte verdadeira na qual pudesse aprender mais sobre a espiritualidade e a vida. Pegou uma mochila surrada pelo tempo, colocou alguns mantimentos, e encheu uma cabaça com água da chuva, e partiu em uma aventura desafiadora. Somente com a roupa do corpo, chinelos de couro cru, chapéu de palha, e uma pequena flauta para ir tocando na viagem. Às vezes a musica diminui o calvário de muitas pessoas, e os desafios tornam-se menos dolorosos e suportáveis.

Caminhando lentamente na praia e sentindo os pés afundarem na ilusória superfície de areia molhada, lá vai ele; avistou uma rocha sendo banhada pelas ondas, e quando a água batia nela as espumas subiam tão alto que parecia querer beijar as nuvens. Era fim de tarde e o sol mergulhava de mansinho bem distante, a rocha era na verdade uma grande caverna, e o caçador ao ver a entrada alegrou-se e entrou. Nem imaginou que ali poderia ser um abrigo perigoso, deitou-se, fez da mochila um travesseiro, e o cansaço se encarregou de fazê-lo dormir.

A noite pareceu pequena, e acordou com o crocitar das gaivotas anunciando um novo dia. Os raios avermelhados do sol nascente refletiu nas águas e clareou dentro da caverna, logo ele se deu por conta que estava em uma área enorme que poderia abrigar muitas pessoas. Começou a desbravar a caverna, e a poucos metros encontrou algumas caveiras em círculo sentadas sobre pedras, um pouco a frente uma em destaque, em cima de uma pedra em formato de um trono, um braço apoiado na pedra e a mão esquerda segurando um espada.

O caçador chegou pertinho da caveira e viu que ela tinha no pescoço um grosso cordão de ouro e um rubi pendurado nele, no punho da espada uma esmeralda encravada, e a forma na qual a caveira estava, sem dúvida era uma posição de liderança. O caçador tocou o indicador na esmeralda e retirando um pouco de poeira e fazendo-a brilhar, e fazendo uma reverência afastou-se silencioso.

Já quase na saída da caverna escutou uma voz: Está com pressa aventureiro? Ele voltando-se em direção a voz viu todas as caveiras de pé em tumbas verticalizadas, passou entre elas e foi direto a que estava no podium, parando em frente a ela perguntou; Falou comigo? 

-Sim, sei o que procuras, que também procura você. Vi que não está interessado no rubi, e nem na minha lâmina com a esmeralda encravada, e sei o que vês, mas queria ouvir de você se encontrou o tesouro que procuras.

-Vejo um líder e seus liderados na mesma situação, abraçados pela democrática morte que não enxergou diferença entre seu rubi, e as conchas e búzios pendurados nos simples cordões de algodão de seus comandados, ambos apenas passado. Quanto ao tesouro, o encontrei; o tempo passa para todos, ricos e miseráveis todos serão abraçados. Isso é uma afirmação de meu pensamento, de que os sábios se vestem de simplicidade, e os tolos, de arrogância.

-Aventureiro, éramos todos irmãos, o cordão com o rubi, e a lâmina com a esmeralda, estiveram em cada um de nós, no dia da tormenta apenas estavam comigo, um rodízio controlado pelo destino, mas os ombros de todos nós já foram encostas de alegrias e infortúnios. Nossos espíritos ainda estão na terra, nossas bocas falam de igualdade e amor, mas a maioria das pessoas estão surdas, somente algumas conseguem nos ouvir. 

Junte-se a nós, caçador de espírito, jamais desista de divulgar o amor, nem que venham a rir de você como riem de todos os espíritos que pregam o bem, e lembre-se de cultivar a humildade, até porque todos têm telhados de vidros.


"O conhecimento é um farol na escuridão"


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