Era uma vez em um lugar bem distante por entre os penhascos de uma serra verdejante, morava uma comunidade muito pobre, vivendo apenas da lavoura e da caça sem muitas expectativas de melhoras. No entanto o sonho de cada pai de família era deixar de herança para os filhos, o conhecimento, sabiam que seca ou inundações jamais destruíam tal patrimônio. Em casinha de barro funcionava uma escolinha, as meninas com seus vestidos de chita, e os meninos calça de tergal azul e camisas brancas. A maioria calçavam congas ou havaianas, e mesmo com toda simplicidade a alegria era contagiante.
Helena, uma das alunas, tinha dificuldade de ler. Os pais nem pensavam em levar a um oftalmologista porque não tinham recursos para comprar o óculos, mesmo assim era uma das mais entusiásticas da classe, até mesmo quando os colegas riam de sua lentidão ao ler, ela dava uma paradinha e ria, imaginava que os risos não fossem de deboche. Todas as sextas-feiras era escolhido um aluno(a) para ler um conto e depois representá-lo em um palco improvisado. Aquela menininha de pela branca, cabelos negros e cortados rente a testa, foi crescendo, e deixou de rir com os risos dos colegas. Começou a entender que não tinha a menor graça em relação ao problema que ela tinha na visão, poderia ser qualquer, não era motivo de zombarias.
Uma noite em seu humilde quarto, o claro da lua penetrou e clareou parte do seu rosto, deitada em uma redinha de lona nas cores branca e azul, ela inclinou-se e através do clarão conseguiu ver a lua, olhando-a fixamente ela falou: Minha deusa, sexta-feira o Pedrinho leu um conto sobre uma fada Zuculina, e disse que ela viaja o mundo, entra em nos sonhos para ajudar, amanhã será o meu dia de fazer a leitura. Será que a Zuculina mora aí com você? Se morar, peça pra ela me visitar, preciso muito de ajuda.
No dia seguinte ao pegar os livros para ir a escola, pediu ajuda novamente a ajuda da fada. Na segunda parte da aula ela foi chamada para ler um conto, alo levantar-se, olharam para ela e começaram a falar a meia boca. A professora perguntou qual conto ela havia escolhido.
-Vou ler e representar O Patinho Feio, muitos riram e a professora pediu silêncio.
Ao abrir o livro, uma grande surpresa. Letras enormes, coloridas e brilhantes, Helena falou baixinho, que alegria, as fadas existem de verdade. Começou a leitura com uma desenvoltura impressionante, a voz serena e firma, ao terminar a classe inteira levantou-se e aplaudiu fervorosamente. Olhavam-se entre si, sem entender o porque de uma mudança tão repentina.
Ela subiu ao palco e quando olhou para a classe, viu apenas os personagens do conto O Patinho Feio, mergulhou no mundo da fantasia e fez uma apresentação fantástica. A professora perguntou se ela podia explicar o que havia acontecido com ela para que pudesse justificar a transformação em sua leitura e apresentação. E ela falou: Quero fazer um agradecimento especial ao Pedrinho, sobre o conto da fada Zuculina, ela está aqui e me ajudou. Quer também ajudar vocês, começando com um pedido: Não julgar os outros pela aparência, mesmo porque o amor não está na beleza, a verdadeira beleza é o amor.
A.L.Bezerra
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