A madrugada é um manto, e sob ele um estranho caminha lentamente nas calçadas molhadas de uma ruazinha que parece dormir. As luzes já se apagaram, devaneios, esperanças, e lágrimas dividem o mesmo leito, e o frio da madrugada acaricia corpos que um dia serão apenas lembranças, e jamais morrerão porque o infinito universo os guardarão para toda a eternidade.
A madrugada com seus infindáveis segredos anuncia um visitante, O todo poderoso tempo permitiu ao passado visitar a lápide de Gordon, um hamster imortalizado no livro O Enviado de Órion, onde o autor destaca uma das tantas formas de amar. O hamster agora pertence a outro universo, o da invisibilidade. Mas o passado o encontra no andar superior da casa em seu lugar preferido, o cantinho da parede. Não estava só e ouvia atentamente a sinfonia do vento tocando nas paredes e ressoando por todo o quarto. Uma coruja na janela não o vê mas sente várias presenças, enigmática e sábia, guarda em si vários segredos dos quais a humanidade nem imagina.
O vento soprou mais forte e fez cair várias flores do jasmim manga, o perfume espalhou-se pelo quintal e penetrou sútil em todos os cômodos trazendo lembranças recentes.
A chuva cai banhando o pequeno cajueiro e o cheiro de saudade envolve a madrugada, até o passado emudece e sai de mansinho pela rua molhada, é mais uma sombra que passeia sem rastros e sem forma.
Lentamente visitará mortais e imortais, a madrugada com seu manto cinza e frio abriga e conforta mundos diferentes, sem jamais revelar a ninguém o que o passado falou baixinho a quem ele visitou. Existe uma certeza a qual é desconhecida por muitos, nunca seremos esquecidos quando nos vestimos de amor, essa vestimenta nos transforma em estrelas de um universo sagrado onde passado e futuro será sempre presente. Quem ama não esquece, e a lembrança é a forma mais simples de tornar alguém imortal.
A.L.Bezerra.
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