Madrugada fria, a rua parecia uma cidade fantasma e brisa que soprava varria o chão levando algumas folhas das árvores vizinhas. Um barquinho de papel deslizava na correnteza do acostamento e talvez fosse uma mensagem de um casal apaixonado, ou apenas carregava lembranças e sonhos.
Uma mariposa encantada pelo claro da lua voava lentamente. Começou a chover, e as sombras que o vento fazia ao balançar as árvores misturavam-se aos reflexos das gotas que caíam nas poças de água deixada pela chuva. Relâmpagos cortam o céu e um raio deixou a pequena rua no escuro, em algum quarto iluminado por uma vela uma moça ler o romance Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez.
A madrugada fria não permitiu que aquela jovem dormisse, lembranças invadiram seus pensamentos e procurou na leitura de um excelente romance amenizar a angústia que lhe atormentava. Mas não era a única por uma desilusão, na rua um fantasma vagava junto ao frio, e sem saber em qual dimensão estava, procurava seu lar e suas pessoas amadas. tendo como companhia apenas o silêncio e a madrugada fria.
É difícil entender ou aceitar que mesmo vivendo, em alguns momentos de nossas vidas somos apenas fantasmas errantes em uma procurar incessante. Quanta vezes ficamos invisíveis aos olhos dos que não querem nos ver, ou cegos para não ver quantos momentos maravilhosos a vida nos oferece, e simplesmente ignoramos o brilho do sol, para olhar pela janela a chuva que cai em uma madrugada fria.
Não estamos sós, e mesmo em dimensões superiores alguém nos procura pela lembrança do convívio e a falta que fazemos, a moça do livro nem está sabendo que do outro lado da janela alguém a procura, mas agora esse encontro já não é nais possível. Tão perto e tão distante, é uma ironia do destino, mas isso acontece com muita gente que no mesmo espaço, sob o mesmo teto e até no mesmo leito ficam de costas, e depois quando chegar a madrugada fria, é que sabemos que éramos felizes.
Maninho.
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